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Podia ser em papel. Mas não era a mesma coisa.
Ontem celebrámos o aniversário do pai. Houve almoço daqueles que duram até às tantas, típicos de domingo, em que dá para pôr a conversa e as gargalhadas em dia. No caminho até ao restaurante, no carro, perguntavam os meus sogros quantos anos eram. Fiquei na dúvida entre 68 ou 69, mas mais inclinada para a segunda hipótese (e que era realmente a correta). E o mais engraçado foi a incredulidade do marido, que convive diariamente com ele há quase três anos: "O quê, alguma vez???" E nesta frase se exemplifica bem a quem não conhece o meu pai que de facto não parece ter a idade que tem. Nem pensar. Nunca me lembro que tem quase 70 anos, e quando vejo alguém com essa idade, cheio de maleitas e limitações, percebe-se porquê. Para o meu pai os anos não passam. Nunca fica doente, faz exercício físico diariamente (às vezes até demais), é viciado em saladas e em fruta. Nunca fumou, bebe ocasionalmente um copo de vinho e todos os dias se levanta religiosamente por volta das 7 horas, se não mais cedo. Trabalhou (oficialmente) quase 60 anos da sua vida e hoje, mesmo reformado, não pára. É uma fonte de energia inesgotável. É um dos dois homens da minha vida e nutro por ele uma admiração eterna e crescente, que não é senão merecida. Devo-lhe tantas coisas que não chegavam todos os blogues nem todo o espaço virtual para enumerá-las. E lembro-me de que houve um tempo, naquelas fases parvas da adolescência, em que me senti a milhares de quilómetros do meu pai, ainda que vivessemos na mesma casa. Penso que terá sido logo depois de termos perdido a minha mãe. Curiosamente, foi só quando fui morar e estudar para Inglaterra e fiquei realmente a milhares de quilómetros de distância que percebi o quanto a presença e a companhia dele me faziam falta. Durante esse período fiquei mais próxima e conversei mais com o meu pai do que enquanto cá estava, mesmo que às vezes as conversas fossem por carta ou e-mail - o telefone estava limitado a uma vez por semana, salvo alguma emergência, para não ficarmos ambos na bancarrota. Havia sempre tanto para contar e para perguntar que cada palavra era preciosa. Essa oportunidade e experiência única devo-a também a ele, e além do diploma pude trazer na bagagem muitos amigos para a vida e muitos dias inesquecíveis que fizeram de mim a pessoa que hoje sou. Enfim, é um pilar na minha vida, sempre fez e continuará a fazer-nos falta a todos, por mais que os anos passem. Espero que continuemos a celebrar o seu aniversário e a repetir dias como o de ontem pelo menos mais 70 vezes, e sempre com saúde - pode ser que assim tenha tempo suficiente para agradecer e tentar retribuir alguns dos itens da interminável lista.