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Podia ser em papel. Mas não era a mesma coisa.
De vez em quando, cerca de duas vezes por ano ou coisa que o valha, dá-se um fenómeno sem explicação nesta casa. Assim, do nada, aparecem meia dúzia de formigas pelo chão. Uma ou duas na cozinha, outras tantas no corredor, outra na casa de banho, e outra atrás do sofá da sala. De onde vêm, ninguém consegue apurar. Não é um carreiro, nem sequer chegam à dúzia, por isso não se consegue perceber por onde raio entram, porque nesse caso seria possível lá colocar veneno ou pelo menos Dum Dum, e dava-se conta do recado. Mas não. Mato uma. Passada meia hora aparece-me "ota" e tem o mesmo destino. Passados dez minutos vejo outra na divisão do lado, e assim por diante. As desgraçadas evitam andar em bando e espalham-se sem nexo para não dar nas vistas e realmente resulta, porque não percebo de onde vêm, nem a que propósito. Anteontem começou a dança mais recente, de um momento para o outro. E assim se passam os dias durante uma ou duas semanas, a pulverizar os cantos ao acaso com Dum Dum numa tentativa de acertar no esconderijo, depois a aspirar para recolher os cadáveres, até que, tal como apareceram, desaparecem sem deixar rasto. Juro que não consigo perceber, mas é tal e qual isto que acontece. Irritam-me profundamente, mas também sei que de todos os bichos que me podiam assombrar, a formiga é dos mais inofensivos, por isso é mesmo uma mera questão de incómodo e de invasão. Nada que se compare a uma barata, uma osga ou um rato, por exemplo, que me fariam sair de casa e contratar uma equipa de desinfestação. Mas lá que gostava de desvendar este mistério e correr com as malditas de vez, isso gostava.