Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Podia ser em papel. Mas não era a mesma coisa.
Quando se tem um bebé, ou quando se engravida, descobre-se que existe uma coisa chamada o "percentil". O percentil é (e vou tentar explicar isto com termos perfeitamente leigos de quem, afinal de contas, não estudou isto) uma espécie de escala que classifica os bebés num X de percentagem de acordo com o seu peso e altura. Serve para acompanhar o crescimento do bebé e perceber se está a desenvolver-se bem, e de forma constante, ou se tem variações acentuadas, que indiquem algum problema. Não é nada mais do que um mero gráfico com números que uma alma se lembrou de inventar para enlouquecer ainda mais as mães: se um bebé está no percentil 60 de comprimento, então significa que, em 100 bebés, em média, apenas 40 são maiores do que ele. Ou se está no percentil 5 de peso, então, em 100 bebés, 95 são mais pesados do que ele.
Ora isto tudo para esclarecer que, quando a Margarida nasceu, estava no percentil 50, tanto de peso como de comprimento. Manteve-se assim até ter mais ou menos três meses de idade, quando decidiu começar a crescer desalmadamente. Na consulta dos seis meses, a pediatra confirmou que ela já tinha ultrapassado os 100 no percentil de peso, e no de comprimento para lá caminhava (rondava os 95). Falamos de uma miúda que sempre dormiu toda a noite (ou melhor, desde que tive autorização para a deixar dormir, desde os dois meses, porque antes era obrigada a acordá-la para comer), e sempre comeu muito bem, melhor ainda agora, que já come sopa, fruta e papa. Como ela fez alimentação de leite materno e de leite artificial em conjunto desde um mês de idade, sempre lhe dei pouquíssimo leite artificial, porque a ideia era que fosse de facto um complemento e não o principal. E mesmo quando o leite secou e deixei de dar de mamar, assim mantive - sempre menos leite artificial do que seria de esperar para a idade dela. Nunca lhe dei leite nem comida a mais, nem dantes e nem agora, como tal esta questão de ela estar a crescer tanto dever-se-á muito provavelmente ao facto de dormir bem, e de comer melhor ainda, apesar de apenas o suficiente para a idade dela (embora saiba que, se mais lhe desse, mais ela comeria). Eu não sou nem nunca fui magra, em bebé também era enorme (acho que nasci com cerca de 4 quilos), e o pai só passou a ser magro quando começou a fazer desporto de alta competição, porque com a mesma idade era precisamente uma fotocópia da filha, portanto se ela fosse pequenina não tinha mesmo a quem sair. Além disso, a pediatra já referiu que, assim que começam a gatinhar e a andar, todos os bebés emagrecem e como tal até é bom terem uma "almofadinha da felicidade", para depois não ficarem pele e osso.
Por isso é que me irritam os constantes comentários sobre o peso da Margarida sempre que saio com a gaiata à rua. A próxima pessoa que tiver a infeliz ideia de me dizer que ela está gordinha vai levar um trapo molhado na venta. Juro. Já me tinham avisado sobre o assunto antes de ela nascer: isto é realmente algo que mexe com a cabeça das mulheres e há um certo quê de competição entre as mães quando comparam o peso dos filhos. Todo um interesse gigante para saber quem foi capaz de parir o bebé mais pesado, cujos quilos atestam também a competência da progenitora. Acho que quem diz que ela está "gordinha" só pode mesmo ter tido filhos ou sobrinhos enfezados, coitaditos, e depois sente-se mal quando a vê. É incrível, mas coisa que nunca me interessou foi perguntar às mães que empurram carrinhos de bebé quantos meses têm as criaturas que lá vão dentro - já a mim, é coisa que perguntam a toda a hora, e depois ficam com cara de peru quando eu respondo, e nem confessam quantos têm os respetivos que estão mesmo ali ao lado - e eu também não pergunto, porque realmente me estou pouco lixando, é um facto. E calam-se que nem um rato porque, provavelmente, com um terço do tamanho, têm o dobro da idade dela, claro. Não sei de onde é que as pessoas tiraram a ideia de que Nº 1: Eu lhes pedi a opinião, e Nº 2: Não faz mal dizer à mãe de uma criança que ela está gordinha, só é mau dizer que está magrinha. Eu vejo imensas crianças de dois anos que parecem filhas da Margarida e não digo aos pais "Ohh, coitadinho! Não lhe dão de comer??", ou "Ohh, é anão?" Aliás, acho que é mesmo esse o problema, o ressabiamento de terem crianças no percentil 2 e de se sentirem melindradas com isso (coisa que me ultrapassa, mas enfim), que depois faz com que queiram vingar-se nos bebés grandes. A minha filha é grande porque come e dorme lindamente desde que nasceu, e além disso tem bom feitio. Ficou doente duas míseras vezes no inverno, com constipações que lhe pegaram pessoas de família (uma delas fui eu), e ainda assim curou-se em pouco mais de 24 horas. Nunca teve febre na vida dela, nem fez reação a vacina nenhuma. Não faz alergia a nada, nem a fraldas, nem a cremes, nem a alimentos. Nunca bolsou (nem bolsa), não teve cólicas. Os vossos é que certamente choram que se desunham, cospem a sopa, passam a vida doentes e não dormem nada, por isso é que nem as calorias lhes pegam, taditos. Eu não vos digo que os vossos filhos parecem passar fome e devem ser ruins, por isso não me digam o quanto a minha filha é grande e come bem, porque eu já sei e adoro (e agradeço todos os dias a todos os santinhos). Não perguntei nada a ninguém, eu é que sou a mãe, e eu é que sei se ela está bem ou não, porque sou eu que trato dela e sou responsável pelo seu bem estar. A minha opinião e a da pediatra é que interessam, e eu acho que ela está ótima, saudável, linda e mais esperta a cada dia que passa. E juro que qualquer dia quem se passa sou eu, com tanta opinião informada de "pediatras de bancada".