Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Podia ser em papel. Mas não era a mesma coisa.
Desde que fiquei grávida já me entraram pelos ouvidos 1300 teorias sobre tudo e mais alguma coisa. Umas leio aqui e ali, em livros, revistas e blogues, outras chegam-me sem que as procure, outras peço a amigas para ter outros pontos de vista sobre assuntos que me interessam. Ao contrário do que pensava, já consigo filtrar algumas das coisas e guardar apenas a informação com a qual me identifico e que acho que me vai servir, e não acumular na caixa de spam do cérebro não sei quantos bytes de coisas que só servem para ir para o lixo. Achei que só ia conseguir fazer isso depois de ela nascer, mas afinal já adquiri essa capacidade. Já mudei de opinião acerca de algumas coisas, noutras mantive a minha ideia inicial, mas ainda consigo ficar surpreendida com algumas coisas que ouço. Claro que "cada cabeça, sua sentença", e ainda bem que assim é. Cada uma saberá o que é melhor para o seu bebé, e a decisão final sobre todos os assuntos é sempre nossa. Se gostássemos todas de amarelo...
Tudo isto em jeito de introdução para despejar aqui umas larachas sobre alguns dos temas mais controversos desta coisa da maternidade.
O primeiro e um dos mais falados é o parto. Já tinha lido algumas coisas sobre o chamado "plano de parto", supostamente um pedaço de papel que devemos levar na mala da maternidade com indicação daquilo que gostávamos que acontecesse/não acontecesse no dia em questão. Sim, tenho algumas ideias do que gostava e não gostava, mas a expressão "plano de parto" faz-me alguma confusão. Porque, sejamos realistas: não fazemos ideia do que irá acontecer, certo? No nosso interior desejamos ao máximo que corra tudo bem, e corre na maioria dos casos, mas e se há algum imprevisto e alguns dos itens que incluímos não podem ser seguidos à risca? O que acontece às expectativas criadas? Um grandessíssimo balde de água fria, é o que é. Porque na nossa mente desenhámos um cenário durante (pelo menos) nove meses e depois nada daquilo se concretiza. Acho bom irmos conscientes daquilo que queremos, isso só mostra que estamos bem informadas, porque só bem informadas nos sentimos capazes de decidir entre A ou B, mas definir um "plano de parto" é quase tão ridículo quanto planear a festa do casamento tendo a certeza do tempo que irá fazer - nunca, mas nunca sabemos o que irá calhar, pode ser em agosto e chover torrencialmente, e pode ser em dezembro e estar um belíssimo dia de sol. É a roleta russa total! Portanto, sim, sou capaz de escrevinhar algumas coisitas num pedaço de papel, as essenciais, até porque tenho quaaaaaaase a certeza absoluta de que o pai vai estar tão apto a raciocinar e comunicar com clareza nessa hora quanto eu, mas não quero de maneira nenhuma fazer um filme que depois pode não passar por razões que me ultrapassam, e à equipa médica. Sim, gostava que fosse parto natural, com epidural, se faz favor - mas ela é que sabe como quer nascer. Se tiver de ser cesariana, então senhores, por favor tirem-na cá para fora o mais depressa possível, e bem, que isso é que me interessa. Agora nem me passa pela cabeça estar 30 e tal horas ou mais em trabalho de parto por pura teimosia, porque quero contar a história do nascimento dela em todas as suas festas de aniversário pelo menos durante 20 anos e vou gostar mais de me ouvir se disser que foi natural. Ah, e ainda mais se disser que foi com dor - outra coisa que me faz imensa confusão. Algumas mulheres preferem não levar a epidural e passar por todo aquele sofrimento "a frio", quais Joanas D'Arc parideiras. Juro que não consigo entender o ponto de vista, mas gostava. Sentem-se mais mulheres? Melhores mães? Ou é para depois atirarem à cara dos filhos, anos mais tarde, "Estive eu em sofrimento mais de não sei quantas horas para te ter, nem epidural levei, e tu agora saiste-me um/a desnaturado/a..." Se a epidural foi inventada, para alguma coisa há-de servir, digo eu. Sim, tem riscos associados e pode não funcionar em alguns casos, mas hoje em dia são raras as situações em que corre mal ou é contraindicada. Já não estamos em 1857! Uma coisa é dizer "Não quero epidural porque tenho medo dos riscos" (compreensível), outra coisa é "Não quero epidural porque quero sentir as dores". Hein? Temos mártires? O parto não é uma peregrinação de joelhos a Fátima, é só o momento em que finalmente o bebé tem de sair, e é esse o objetivo principal: sair, nascer, existir! Se a coisa estiver complicada e houver a hipótese de cesariana, siga para bingo! Encham-me de doses cavalares de anestesia e façam lá o que têm a fazer! Venha de cabeça, de pés, de lado, quero cá saber! Estou preparada para a dor mas, dentro dos avanços da medicina, quero o menos possível de sofrimento. Muito agradecida. Que venha bem e com saúde, e pronto! O resto resolve-se depois, quando ela já estiver ao meu colo.
Outro tema muito inflamado, sobretudo hoje em dia, é o da amamentação. Dá pano para mangas. Mas isso fica para um outro post...