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Podia ser em papel. Mas não era a mesma coisa.
Desde que fui mãe, ou melhor, desde que fiquei grávida, perdi a paciência para certas coisas. Eu, a pessoa que no restaurante não era capaz de mandar para trás o Iced Tea de pêssego quando tinha explicitamente pedido o de manga, porque "coitado do empregado, e até nem me faz grande diferença", agora não consigo ficar calada quando me irrito. Acho que é por ter agora mais noção do que realmente importa, e como tal estar-me pouco lixando para o que os outros pensam, ou se lhes vou estragar o dia. Reclamo quando tenho razão, e mai nada. Aguentem-se à bronca se quiserem. É a diferença entre o período ADM (antes de Margarida) e DDM (depois de Margarida). Pode ser da maternidade, ou da idade. Ontem até reclamei na Nespresso, sítio onde o atendimento é sempre excelente e onde até ao momento nunca tinha tido razão de queixa. Quando entrámos deram-nos senha prioritária porque, claro, estávamos com a Margarida. Como nunca antes tinha feito uso dessas senhas (acho que enquanto estive grávida nunca lá fui, porque pouco café bebi), nem sequer me tinha apercebido que as tinham, mas agradeci pelo facto. Entrámos, e olhámos para o ecrã que anuncia os números a ser chamados. O número prioritário que lá estava era o 10, e o nosso o 11, pelo que deveríamos ser chamados de imediato, pensei eu. Mas o mais engraçado é que continuaram a chamar os outros números (os não prioritários), sem de facto darem a referida "prioridade" ao nosso. Esperámos cerca de cinco minutos, e nesse tempo foram chamados pelo menos 3 dos outros números ditos "normais". Passei-me. Não percebi qual era a finalidade de terem senhas prioritárias, quando ao entrarmos continuavam a chamar os restantes números, e não o nosso. Comentei isto em voz alta com o marido, mas claro que a intenção era ser ouvida. A senhora que nos tinha dado a senha à entrada sentiu-se ofendida, e ripostou, o que na minha opinião só lhe ficou mal, e à Nespresso. "Minha senhora, as senhas prioritárias são atendidas só no balcão X. E à velocidade a que isto está, nem sequer há muito tempo de espera", e bla bla bla. Respondi que quando ia à farmácia com senhas prioritárias e a situação era semelhante, era chamada de imediato, ao que a senhora respondeu que "aquilo não era uma farmácia". Passei-me ainda mais. "Desculpe, mas acho que vocês não perceberam o conceito de senhas prioritárias. Eu sei que isto não é uma farmácia, mas se entro aqui com uma senha prioritária e se encontram outras senhas prioritárias à minha frente, com toda a certeza que tenho de esperar. Agora quando entro com um número prioritário que é o imediatamente a seguir, e enquanto já cá estou chamam 3 ou 4 números que não são prioritários antes de mim, então não faz qualquer sentido. Eu não venho à Nespresso por ter senhas prioritárias, já vinha antes quando não tinha direito a elas, por isso não me importo de esperar (caso contrário vendo a máquina no OLX e compro outra que venda cápsulas no hiper, assim não tenho de me ralar com senhas), mas se apregoam esse sistema e não o põem a bom uso, e é só "para inglês ver", então estão a prestar um mau serviço ao cliente, coisa que não esperava da Nespresso. Não me interessa a que velocidade isto vai nem em que balcão somos atendidos, mas há de convir que não faz qualquer sentido haver senhas prioritárias se funcionam assim." E pronto, over and out. Já não disse mais nada, e chamou de imediato a atenção de uma colaboradora disponível para o nosso número. Resultado: fomos chamados nos dois segundos seguintes, e acabou tudo em bem.
Mais: na quinta-feira passada comprei uns All Star cor de rosa para a Margarida no Fórum Montijo, na loja Proshop. Enquanto lá estive a empregada conversou demais e distraiu-se, na minha opinião (e olhem que para eu achar que há conversa a mais, é porque foi mesmo exagerado), e o resultado viu-se quando cheguei a casa: trouxe uma caixa com um sapato de cada número. E a diferença era mesmo flagrante, ao ponto de eu ter percebido ainda antes de os retirar da caixa e os comparar. Pronto, tinha de ser. Tanta conversa só podia mesmo dar nisto! Chovia torrencialmente por isso já não podia voltar lá com ela, decidi chamar a sobrinha para resolver o assunto. Entretanto liguei 348 vezes para a loja, e ninguém atendeu. Percebi que muito provavelmente o número par já não estaria na loja e já alguém teria tido a mesma sorte que eu, porque não haveria outra razão para a caixa com o número errado ter um sapato em falta e ter induzido à falha. Disse à sobrinha: ou arranjam o número que falta, ou fazem a devolução do dinheiro. Daí a uns minutos, liga a sobrinha. "Tia, eles estão a tentar procurar o número que falta. Mas dizem que não fazem devoluções." OK. Inspira, expira. Estava a fazer o jantar na altura e ia derrubando as panelas. "A., podes dizer em alto e bom som: ou me resolvem o problema, ou fazem a devolução do dinheiro, caso contrário eu amanhã estou aí às 10h da manhã, logo que isso abra, para fazer um escândalo, escrever no livro de reclamações e fazer uma queixa formal à Deco!! Não fazem a devolução se eu chegar a casa e decidir que já não me apetece ter uns ténis All Star cor de rosa, mas por incompetência da loja era o que faltava não me devolverem o valor!! Ahhhhhhhhhhhhhh!!!" E por aí em diante. Resultado: acabaram por resolver o problema e encontrar na loja do lado, a Lego, que também lhes pertence, aparentemente, uma caixa com os dois números certos dos All Star. Ah, e em rosa (ainda houve a tentativa de trocar a cor dos mesmos, o que só me fez vociferar ainda mais pelo telefone). O mais engraçado é que foi a primeira vez que entrei naquela loja, e escusado será dizer que foi a última.
Isto tudo para prevenir possíveis prestadores de serviços onde futuramente me desloque: não me ponham à prova, porque da conversa ao livro de reclamações é um tirinho...