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Podia ser em papel. Mas não era a mesma coisa.
Encontrei esta foto no "baú". Trouxe-me tão boas recordações que me apeteceu partilhar. Sou eu e a minha vizinha alemã Julia, na minha casa em Hudson Road, em Portsmouth, no sul de Inglaterra. Provavelmente numa das noites em que vinha a nossa casa ver TV, porque na dela não havia (sobretudo quando começou a primeira série de Desperate Housewives, às quartas-feiras o ritual era certinho). Um momento bem apanhado, como sempre, pelo nosso amigo Pavel, checo de nascença, mas holandês de coração desde o dia em que se mudou para Amesterdão, aos 16 anos. Estava eu a meio do meu Masters degree, há exactamente 10 anos. Muitas saudades deste tempo, dos lugares, dos amigos, das conversas, desta fase da minha vida, de mim própria nesta idade. Muitas saudades.
E assim termina 2014, com um dia cheio de sol e frio, exatamente como eu adoro. Apesar de não ter concretizado todas as minhas resoluções e de este ano não ter sido fácil, acho que o balanço foi positivo, sobretudo se tiver em conta os inúmeros momentos felizes passados com a Margarida. Sei que o próximo ano trará ainda mais momentos desses, e tenho esperança que traga também outras coisinhas que muito ambiciono. Mas que não falte saúde, para mim, para a família e amigos, é o mais importante.
Não ligo absolutamente nada à Passagem de Ano. No ano passado ficámos os três em casa, enquanto o resto da família entrava em 2014 na casa da mana M. Estava um temporal horroroso, a Margarida tinha de mamar de duas em duas horas no máximo e tinha só quinze dias, e eu andava de rastos na altura com a privação de sono. Decidimos então ficar dentro para a poupar à confusão e ao frio, a comer uns camarões e no quentinho. Mas hoje a noite vai ser especial e animada entre amigos, na casa dos queridos B. Converseta, boa comida e bebida é uma combinação promissora. Decidimos em conjunto o menu entre 2987 comentários no Facebook, e cada um leva uma coisinha, para não ser tão trabalhoso para a anfitriã. Eu fiquei encarregue dos camarões à guilho e vou fazer também já in loco uns ovos mexidos com linguiça, especialmente para a minha partner M. Levamos também uma garrafinha de branco e de espumante. Além disso, haverá também jogos de tabuleiro, que é coisa que adoro mas que raramente tenho o prazer de usar. Vou levar um Monopólio comprado há uns três anos que ainda nem sequer foi estreado e está a ganhar mofo aqui no móvel da sala. Vou só ali rezar para a Margarida não me comer os condomínios.
O dia 15 foi um dia cheio. Marquei mil e um compromissos e depois andei a correr de um para outro, atrasada, claro, na maioria das vezes. Mas gostei de não ter tido tempo para parar e pensar, "Hmmm... já estou mais perto dos 40!" Em vez disso decidi fazer uma mudança radical e dei um grande corte no cabelo. O marido ficou em choque, mas eu sinto-me lindamente. O comprimento era tanto que já nem conseguia mantê-lo solto, sobretudo agora que começo a sentir os afrontamentos do último trimestre da gravidez! E, já dizia a minha rica mãezinha, "Para que queres cabelo comprido se andas sempre com ele atado?" Exatamente. Agora está pelos ombros e não me lembro de o ter tão curto já há alguns anos. E está esticado, o que significa que quando os caracóis voltarem vai levantar um pouco mais... Mas não faz mal! Vai voltar a crescer, e uma mudança é sempre uma lufada de ar fresco. Sentia-me super pesada (e não pela razão mais óbvia), e agora com um novo look até vejo a vida com outras cores.
Depois do almoço em família, que foi giríssimo (comi um robalo grelhado que estava uma delicia), passei na Maria Pestana para a manutenção das minhas pestanitas - agora estão mais cheias e ainda mais dramáticas! Adorei! Isto em combinação com o novo corte pôs a autoestima dos 31 lá em cima. Depois cheguei atrasada ao lanchinho com as meninas - foram quase entradas do jantar. Mas foi muito bom aproveitar aquele bocadinho para estar com elas, ainda que tenha sabido a pouco! A seguir fomos à aula do curso pré-parto que perdemos na semana passada, a que falou sobre amamentação. Algumas teorias já conhecia, outras foram novidade. Acho que depois do curso pré-parto vou parar por aqui no que diz respeito às leituras e aos workshops. Quero mesmo é a prática, já tenho a cabeça cheia de um completo manual de instruções de bebés. Só falta dar-lhe uso.
O dia terminou com um jantarinho de sushi, que já não comia há séculos e soube lindamente. Só chegámos a casa perto da meia-noite. O dia passou num instante, tal como o ano, mas foi muito feliz. E agora o que aí vem será ainda melhor.
E ontem lá fomos nós, Avenida da Liberdade abaixo, mais concentradas em pôr a conversa em dia do que em ver de facto as montras ou em entrar nas lojas. Escolhemos três ou quatro e lá fomos cuscar, numas simplesmente não valia a pena entrar, noutras entrámos por nossa conta e risco, tal era o monte de mulherada que as enchia. Nesta noite já se sabe que compras estão fora de questão: ninguém tem calma e concentração suficiente para ver o que quer mesmo comprar, e mesmo que tenha, as filas habituais nas lojas que são mais em conta fazem qualquer uma desistir da espera. Simplesmente não há cu que aguente a confusão. Para mim não dá mesmo - é por isso que não sou menina de me perder nos saldos, apesar da tentação dos descontos, porque o ambiente normal desses dias (tudo doido à luta pelo último par de stilettos 38 em preto, prateleiras com montes de roupa até ao teto, filas de 5 quilómetros para pagar, etc.) nunca me estimula à compra.
Mas a VFNO é sempre gira para dar uma volta pela Avenida e pelo Chiado, ver as ruas cheias de animação, ir fintando os encontrões e finalmente atingir o destino: o restaurante onde jantamos, descansamos as pernas e prolongamos a noite, todas juntas. E ontem S. Pedro ajudou, porque a temperatura estava fantástica, nem muito quente, nem muito fresca. Para meu espanto, consegui ir sem me sentir cansada desde o Marquês de Pombal até à Oficina do Duque, no Chiado, o local escolhido para o repasto. A ementa é super original e alguns ingredientes obrigaram a uma pesquisa no Google para serem decifrados. O espaço é muito agradável, apesar de não muito grande e, com as portas abertas, o fresco da noite ia invadindo a sala sem deixar que o ambiente se tornasse pesado. A maioria de nós escolheu o bitoque, que estava muito saboroso e bem passado como pedi, apesar da carne ser de uma grossura considerável. O único senão foi mesmo o ovo cozido a baixa temperatura, que já vinha frio (e não só o meu). Enfim, ficou aprovado!
Quando saímos e rumámos em direção a casa, o que mais me chocou foi a quantidade de lixo acumulado nas ruas. De fugir. Copos, sacos, papéis, garrafas, eu sei lá. A dimensão dos pontos de recolha simplesmente não está preparada para uma noite destas. Isso a juntar aos péssimos hábitos de algumas pessoas mais porquinhas, que já se sabe o que a casa gasta. Espero que tenham conseguido pôr a cidade em ordem antes do amanhecer, caso contrário quem acordasse e desse de caras com aquele cenário iria pensar que um furacão atacou Lisboa durante a noite.
Ao longo da vida, vamo-nos cruzando com centenas de pessoas nos mais diversos contextos. Umas evoluem do estado "simples conhecidos" para o patamar de "amigos", outras nunca passam disso, umas são-nos indiferentes, outras tornam-se verdadeiros ódios de estimação.
Para mim, entre todas elas, sempre houve mais duas categorias distintas: aquelas que me inspiram boas energias, as que me fazem sentir bem, para cima, que têm em torno delas uma aura de cores bonitas e esbanjam boa disposição; e aquelas que têm em mim precisamente o efeito contrário, ou seja, que ao entrar numa sala enchem o ar de um negativismo impressionante e poluem imediatamente o ambiente, pessoas que estão de mal consigo próprias e com o que têm, que traçam como único objetivo prejudicar e ver os outros infelizes para se sentirem melhor na sua tristeza crónica e nas suas vidas desprovidas de sentido e propósito, e até chegam ao ponto de me fazer sentir mal fisicamente, tal é a intensidade do pessimismo que as envolve. Basicamente, pessoas cheias de "maus fígados", como digo às vezes. Infelizmente já tive de conviver com algumas que se encaixavam nesta última categoria, e não foi fácil. Gosto de estar sempre bem-disposta, de rir e de sorrir, de fazer rir os outros e da harmonia entre os que me rodeiam, e quando me deparo com pessoas que são precisamente o oposto de mim, custa-me horrores ignorá-las e fingir que não estão ali. Mas já o fiz, por vezes diariamente, e não morri. É preciso lembrar também que essas pessoas só têm a importância que lhes dão (ou que lhes damos) e, como tal, se formos a ver, não têm absolutamente nenhuma.
Felizmente, e para compensar os erros de casting do destino, de vez em quando aparecem na nossa vida as pessoas que se encaixam na primeira categoria, e quando menos esperamos. Foi o que aconteceu ontem. Há uns meses, por portas e travessas, travei conhecimento com uma menina (digo "menina" carinhosamente, por ser só quatro aninhos mais nova do que eu, mas em termos de maturidade é evidentemente uma senhora) num contexto não presencial, ou seja, através da internet. Foi por mero acaso: ela leu alguns dos meus textos pessoais, identificou-se com os meus desabafos e passado alguns meses enviou-me um email muito querido e extenso em que, entre muitas outras coisas, explicava que, apesar de nunca me ter visto, se identificava imenso comigo e sentia até que já me conhecia. Tudo isto sem saber, sequer, o meu nome próprio. Fiquei emocionada com a simpatia e a entrega das palavras, adorei a forma como o escreveu e descreveu (sempre achei que a eloquência ou, neste caso, a boa escrita, traduz fielmente a nossa essência e é, em 90 por cento dos casos, um excelente cartão de visita), e respondi-lhe, agradecendo imenso. Acabámos por nos aproximar mais e dar um rosto aos emails através dessa coisa a que chamam Facebook, que pode não passar de uma rede social mais ou menos inútil, que já despoletou não sei quantos mal-entendidos e outros tantos divórcios, mas que ainda tem destas coisas boas: trazer-nos pessoas que dão mais colorido à nossa existência e que, doutra forma, nunca conheceriamos. E foi assim que ontem nos encontrámos finalmente e nos sentámos para o que deveria ter sido um café de poucos minutos numa esplanada, e que se alongou durante quase uma hora e meia, que passou a voar - diz que é assim quando nos sentimos felizes entre amigos. Muito se disse e se confidenciou, e muito mais haveria para rir e chorar, não fosse a pressão do tempo, que era limitado. Ficaram prometidos outros cafés e mais risadas. A F. é realmente a pessoa que sempre imaginei que era: simpática, extrovertida, genuína e inteligente. Para não falar de giraça, que isso já tinha percebido pelas fotos. Afinal já a conhecia, mas ainda não sabia o quanto. Fiquei muito feliz por ter feito uma nova amiga, e mais ainda, por ter já há alguns meses na minha vida, mas agora de forma mais presente, alguém como ela. Obrigada.
Isto de uma pessoa estar grávida faz-nos prestar atenção a todas as outras grávidas do mundo, desde a figura pública até aquela que passa por nós na rua. Há sempre aquele sentimento de solidariedade e proximidade com alguém que está na mesma condição que nós, com quem nos identificamos, e isso é muito comum em muitas situações, mas sobretudo numa tão única e especial quanto esta. Além de que quando estamos grávidas parece que o número de gestantes por metro quadrado aumenta drasticamente, já que reparamos em cada uma delas. De repente, toda a gente se lembrou de ter bebés, tal como nós!
No entanto, mais do que ficar feliz por alguém que não conheço e que doutra forma não me diria absolutamente nada, é quando ficamos felizes por alguém que nos diz tanto. Acabei de saber que a namorada de um grande, grande amigo, que acredito que pode ter sido meu irmão numa outra vida, também está grávida, e precisamente do mesmo número de semanas. Ou seja, vamos ter December babies, ou Christmas babies, dependendo de quando eles se decidirem a "aparecer". Fiquei super emocionada e veio-me logo à ideia momentos tão divertidos que passámos juntos desde que nos conhecemos há pouco mais de 10 anos. Eramos estudantes, não tinhamos responsabilidades para além de termos boas notas, e estavamos ambos no auge da nossa juventude, cheios de sonhos e planos, mas acima de tudo a viver em pleno o presente, que era tão bom (dizem que é por isso que se chama "presente", porque é uma dádiva). Riamos imenso, aparvalhavamos imenso, partilhavamos as alegrias e os desgostos e sempre fomos muito próximos. Falta dizer que este grande amigo é francês (apesar de ter vivido e estudado em Itália e ter uma costela portuguesa), não mora nem nunca morou sequer em Portugal, que nos conhecemos quando estudavamos ambos em Inglaterra, e que mesmo depois de termos deixado de conviver diariamente durante quase dois anos, mantivemo-nos sempre em contacto. Ele veio ao meu casamento, o que me deixou imensamente feliz e agradecida, e depois disso só nos voltámos a ver em sua casa, nos arredores de Roma, num break de quatro dias que fiz com o marido há dois anos, onde pude conhecer a namorada e futura mamã, que é uma querida e que adorei. Mas a cumplicidade ultrapassa as fronteiras e parece sempre que ainda foi ontem que nos vimos pela última vez. E agora, tantos anos depois, vamos passar pela mesma grandiosa experiência ao mesmo tempo e poder partilhar também essa descoberta e primeiras impressões. Vai ser giro podermos estar online a despejar o nosso stress naquelas noites em que não vamos poder dormir... ;)
Estou tão feliz por vocês, meus queridos!! Tudo de bom para os nossos bebés!