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Podia ser em papel. Mas não era a mesma coisa.
Já tinha dito uma vez que desde que estou grávida mudei o meu ponto de vista sobre muitos assuntos. Foi assim uma espécie de transplante de ideias que pode ter sido provocado pelas hormonas, ou pela quantidade de informação que nos entra pelos ouvidos a partir do dia em que vemos o tal risquinho bem marcado no teste de gravidez. Surpreendi-me a mim própria em muitos aspetos. Por exemplo, não tinha ideia do quanto gostava de ter um parto normal, ao invés de uma cesariana. Sempre pensei que isso me fosse indiferente, desde que tudo corresse bem, de uma forma ou de outra. Ou de quanto fazia questão de amamentar o meu bebé. Sinceramente era uma coisa que me assustava mais do que o parto em si, pelas histórias de terror que tinha ouvido e pelo alto nível de dependência em que isso nos colocava relativamente à criança, e vice-versa. Basicamente, a alimentação do bebé dependeria única e exlusivamente de nós, e nunca podíamos estar mais do que duas, três horas afastadas dessa tarefa, a não ser que retirássemos o leite para que alguém o pudesse dar em biberão. Não sei porquê, isso fazia-me imensa confusão. Mais: a aparente pressão a que as mulheres são sujeitas hoje em dia para amamentarem os seus bebés, sendo quase consideradas "criminosas" quando desistem, ou preferem à partida o leite adaptado, também me fazia repudiar todo o conceito. Afinal de contas, as mamas são de quem? Porque, sejamos realistas: tal como no parto, ninguém, a não ser a mãe, sofre na pele o efeitos da amamentação, e mais ninguém, a não ser ela, pode decidir se quer ou não sujeitar o corpo a esse processo. Sobretudo quando é tão doloroso ao ponto de as fazer chegar ao desespero e às lágrimas, transformando o acto numa verdadeira provação - que acho que não é de todo a ideia, nem para a mãe, nem para o bebé. Aliás, já li que nesses casos extremos, o bebé sente de tal forma o stress da mãe que todos os benefícios do leite se desvanecem - mais vale dar leite adaptado num ambiente calmo e relaxante, em que se pode apreciar o momento e realmente estabelecer uma ligação com o bebé, do que passar as passas do Algarve para amamentar contrariada e em sofrimento. Não faz sentido e pronto, e se a mãe não estiver feliz, o bebé também não pode estar. Não acho que sejam más mães, nem que estejam a negligenciar os bebés por isso. Elas lá terão os seus motivos, e de certeza que as crianças serão compensadas de outras formas, quanto mais não seja com o sorriso e com o bem-estar da mãe, que eles entendem nos primeiros tempos como sendo parte integrante deles próprios. Não cabe a mais ninguém julgar, sejam essas pessoas mães ou não, porque "só quem está no convento sabe o que lá vai dentro". Ah, e outra: que me desculpem os homens, mas neste tema acho que têm muito pouco a "apitar", mesmo que sejam os pais da criança, mas muito menos quando não é do vosso bebé que se trata (a não ser que sejam obstetras ou pediatras). Se há coisa que me irrita é ver homens a mandar bitaites sobre planos de parto ou sobre amamentação alheia, quando ninguém lhes perguntou absolutamente nada. E quando acham que podem criticar as mulheres pelas suas escolhas, então, é a gota de água. Perdoem-me, mas o vosso poder de argumentação pesa muito pouco num assunto do qual nunca poderão perceber mais do que dois ou três por cento. E ninguém leva a sério a crítica sobre um tema que se baseia única e exclusivamente no "imagino", no "ouvi dizer" ou na pesquisa pela internet. É a mesma coisa que eu dizer que certo filme é bom ou mau sem nunca ter posto os pés no cinema (nem poder sequer passar do foyer). Pensem um pouco: salvo raríssimas exceções, algum dia consideraram a opinião de uma mulher sobre futebol? Pois, bem me parecia.
Isto tudo para dizer que eu, sendo muito compreensiva para com quem escolhe não amamentar, depois de muito ler e ouvir sobre o assunto, descobri que afinal faço muita questão de o fazer. É daquelas coisas que acho que valem a pena, ainda que o início possa ser complicado (e é muito provável que seja). Segundo o que li, o primeiro passo é, além de querer, claro, encarar a coisa com naturalidade, sem pressões. Se o estado de espírito for de stress ou de receio, está tudo estragado - o organismo deixa de produzir ocitocina, e em consequência também dificulta a produção do leite. Há que facilitar um ambiente tranquilo para a mãe e bebé, e seguir todas aquelas regras que nos ensinaram no curso Pré-parto: a posição do bebé, a boa pega, as massagens na mama para aliviar a produção de leite em excesso, etc etc. As restrições na alimentação são a única coisa que me aborrece mais, já que já suportámos nove meses de certas privações, mas segundo o Enf. Luís Pedro, há algumas proibições que são mito. Ou seja, se a mãe já ingeria normalmente determinados alimentos durante a gravidez, isso significa que esses mesmos alimentos não vão afetar o bem-estar do bebé, já que este já está mais do que habituado. Claro que o álcool continua a ser proibido, mas o café pode ser tomado, se for logo após terminarmos - assim haverá tempo suficiente para o organismo o digerir nas próximas três horas, sem que afete o leite.
Outra coisa importante é não estabelecer metas. Ou seja, sei que gostava de amamentar até aos cinco, seis meses, mas não vale a pena pensar nisso, não vá a coisa correr menos bem e depois ficar desiludida. É levar um dia de cada vez e esperar pelo melhor. Se superarmos os primeiros tempos, em que parece que é mais alta a taxa de desistência, então estamos no bom caminho. E pensar sempre que somos capazes e que, afinal de contas, fomos feitas para isto. Se é o melhor para mim e para ela, então fico feliz se for bem sucedida. Acho que deve ser uma experiência maravilhosa e que a tal dependência que me fazia ponderar o leite adaptado vai ser algo que me vai preencher imenso (espero não vir a morrer pela boca...). Por isso é fazer tudo certinho, pedir ajuda se tiver dificuldades, e ver como corre. Em caso de emergência, é resolver da melhor forma e contornar o obstáculo, não desistir à primeira nem à segunda, e tentar levar o barco a bom porto. Sem pressões, acho que vai correr tudo bem. Se não correr, paciência! Caso aconteça o pior e seja levada a desistir, também sei que me estou nas tintas para o que os outros pensam e que dei o meu melhor. Filmes de terror é que não, senhores. Depois de nove meses de gravidez e um parto, acho que do que menos precisamos ambas é de dramas...
Desde que fiquei grávida já me entraram pelos ouvidos 1300 teorias sobre tudo e mais alguma coisa. Umas leio aqui e ali, em livros, revistas e blogues, outras chegam-me sem que as procure, outras peço a amigas para ter outros pontos de vista sobre assuntos que me interessam. Ao contrário do que pensava, já consigo filtrar algumas das coisas e guardar apenas a informação com a qual me identifico e que acho que me vai servir, e não acumular na caixa de spam do cérebro não sei quantos bytes de coisas que só servem para ir para o lixo. Achei que só ia conseguir fazer isso depois de ela nascer, mas afinal já adquiri essa capacidade. Já mudei de opinião acerca de algumas coisas, noutras mantive a minha ideia inicial, mas ainda consigo ficar surpreendida com algumas coisas que ouço. Claro que "cada cabeça, sua sentença", e ainda bem que assim é. Cada uma saberá o que é melhor para o seu bebé, e a decisão final sobre todos os assuntos é sempre nossa. Se gostássemos todas de amarelo...
Tudo isto em jeito de introdução para despejar aqui umas larachas sobre alguns dos temas mais controversos desta coisa da maternidade.
O primeiro e um dos mais falados é o parto. Já tinha lido algumas coisas sobre o chamado "plano de parto", supostamente um pedaço de papel que devemos levar na mala da maternidade com indicação daquilo que gostávamos que acontecesse/não acontecesse no dia em questão. Sim, tenho algumas ideias do que gostava e não gostava, mas a expressão "plano de parto" faz-me alguma confusão. Porque, sejamos realistas: não fazemos ideia do que irá acontecer, certo? No nosso interior desejamos ao máximo que corra tudo bem, e corre na maioria dos casos, mas e se há algum imprevisto e alguns dos itens que incluímos não podem ser seguidos à risca? O que acontece às expectativas criadas? Um grandessíssimo balde de água fria, é o que é. Porque na nossa mente desenhámos um cenário durante (pelo menos) nove meses e depois nada daquilo se concretiza. Acho bom irmos conscientes daquilo que queremos, isso só mostra que estamos bem informadas, porque só bem informadas nos sentimos capazes de decidir entre A ou B, mas definir um "plano de parto" é quase tão ridículo quanto planear a festa do casamento tendo a certeza do tempo que irá fazer - nunca, mas nunca sabemos o que irá calhar, pode ser em agosto e chover torrencialmente, e pode ser em dezembro e estar um belíssimo dia de sol. É a roleta russa total! Portanto, sim, sou capaz de escrevinhar algumas coisitas num pedaço de papel, as essenciais, até porque tenho quaaaaaaase a certeza absoluta de que o pai vai estar tão apto a raciocinar e comunicar com clareza nessa hora quanto eu, mas não quero de maneira nenhuma fazer um filme que depois pode não passar por razões que me ultrapassam, e à equipa médica. Sim, gostava que fosse parto natural, com epidural, se faz favor - mas ela é que sabe como quer nascer. Se tiver de ser cesariana, então senhores, por favor tirem-na cá para fora o mais depressa possível, e bem, que isso é que me interessa. Agora nem me passa pela cabeça estar 30 e tal horas ou mais em trabalho de parto por pura teimosia, porque quero contar a história do nascimento dela em todas as suas festas de aniversário pelo menos durante 20 anos e vou gostar mais de me ouvir se disser que foi natural. Ah, e ainda mais se disser que foi com dor - outra coisa que me faz imensa confusão. Algumas mulheres preferem não levar a epidural e passar por todo aquele sofrimento "a frio", quais Joanas D'Arc parideiras. Juro que não consigo entender o ponto de vista, mas gostava. Sentem-se mais mulheres? Melhores mães? Ou é para depois atirarem à cara dos filhos, anos mais tarde, "Estive eu em sofrimento mais de não sei quantas horas para te ter, nem epidural levei, e tu agora saiste-me um/a desnaturado/a..." Se a epidural foi inventada, para alguma coisa há-de servir, digo eu. Sim, tem riscos associados e pode não funcionar em alguns casos, mas hoje em dia são raras as situações em que corre mal ou é contraindicada. Já não estamos em 1857! Uma coisa é dizer "Não quero epidural porque tenho medo dos riscos" (compreensível), outra coisa é "Não quero epidural porque quero sentir as dores". Hein? Temos mártires? O parto não é uma peregrinação de joelhos a Fátima, é só o momento em que finalmente o bebé tem de sair, e é esse o objetivo principal: sair, nascer, existir! Se a coisa estiver complicada e houver a hipótese de cesariana, siga para bingo! Encham-me de doses cavalares de anestesia e façam lá o que têm a fazer! Venha de cabeça, de pés, de lado, quero cá saber! Estou preparada para a dor mas, dentro dos avanços da medicina, quero o menos possível de sofrimento. Muito agradecida. Que venha bem e com saúde, e pronto! O resto resolve-se depois, quando ela já estiver ao meu colo.
Outro tema muito inflamado, sobretudo hoje em dia, é o da amamentação. Dá pano para mangas. Mas isso fica para um outro post...