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Podia ser em papel. Mas não era a mesma coisa.
Anteontem, depois da segunda sessão do curso pré-parto, fomos jantar ao Honorato, o novo que abriu na Rua de Santa Marta. O marido já lá tinha ido almoçar com colegas de trabalho, mas eu ainda não, então lembrámo-nos de ir espreitar. O espaço já conhecia e sei que tem imenso potencial para criar um ambiente fantástico: era o antigo Luca, depois passou a ser um tal de Fusion, depois o Risoito (que abriu agora praticamente nas traseiras). Mas pelo caminho fui-lhe perguntando como tinha sido esse almoço e a primeira coisa que me disse foi que tinha achado o hambúrguer demasiado pequeno. Senti-me logo de pé atrás, já que estavamos as duas (eu e a mini me) cheias de fome e não me apetecia ficar mal servida. Ainda assim, decidimos arriscar e tirar a prova dos nove.
Chegámos pelas 21h, e reparámos logo que havia fila de espera. A uma quarta-feira. Aquela hora. Deve ser meeeesmo bom, pensei. O ambiente era realmente cool e estava extremamente bem decorado, embora de forma demasiado minimalista - não há menus (está tudo escrito a giz em diversos quadros pretos gigantes) e não há individuais a marcar os lugares nas mesas, o que lhes dá um aspeto demasiado "despido", a meu ver. As frases engraçadas escritas nos quadros espalhados pelo restaurante também são uma ideia gira que lhe dá personalidade. Estava cheio a abarrotar, a maioria eram grupos de 6 ou mais pessoas, mas lá demos o nome à hostess. Esperámos cerca de meia hora até nos sentarmos, a esta altura já capazes de comer uma vaca inteira. A música demasiado alta em combinação com as vozes das dezenas de comensais, que tinham de praticamente gritar para se fazerem ouvir do outro lado da mesa, tornaram o momento menos agradável. Se há coisa que detesto é demasiado barulho quando quero desfrutar de uma refeição descansada num bom restaurante... A simpatia da empregada que nos atendeu foi o que mais apreciei, sinceramente. Escolhi o hambúrguer Honorato, bem passado, e não achei mesmo nada de especial. O hambúrguer tinha de ser bem passado, de facto, mas não era preciso estar seco e duro que nem pedra. É possível servir carne bem passada sem ter de a esturricar. Não é fácil, é preciso saber o que se está a fazer, mas é possível, sim. Eu sei, porque já comi belos bifes (e por vezes bem altos) bem passados, tenros e suculentos. É raro, mas já aconteceu. Não foi o caso, e era um simples hambúrguer. Além de que tivemos de esperar mais de meia hora, o que para grelhar um pedaço de carne me parece demasiado. O hambúrguer não era pequeno, tinha o tamanho normal, mas bem temperado e saboroso não estava. O melhor do prato foram as batatas fritas e o molho de maionese com alho. Para beber pedi um mix de limão e gengibre, que estava muito bom, e ajudou a empurrar para baixo a carne seca, felizmente.
Quando finalmente saímos, já cerca das 22h45, ainda estavam a chegar pessoas para jantar. E o espaço continuava cheio. Fiquei sem perceber a razão. A única coisa que me ocorre é ser talvez um dos sítios in do momento em Lisboa, onde se vai para ver e se ser visto, e nem tanto para comer. Não sou apologista desses locais, e não tenho paciência para modas injustificadas. As razões principais que me fazem preferir um determinado espaço é a eficiência e simpatia do serviço, e logo depois a qualidade da comida (sim, por esta ordem). Sou capaz de ficar cliente vitalícia, até me darem razões em contrário. Mas o que achei é que este local não é assim tão bom nem é assim tão barato que justifique toda aquela agitação. A sensação que me deu foi de que este era o único restaurante aberto em Lisboa naquela quarta-feira, e realmente fiquei perplexa. É preciso muito mais do que uma decoração gira para fazer um restaurante. Dificilmente lá volto, porque as opções que lhe dão 10 a zero são imensas e, até ao momento, ainda não me desiludiram.
E ontem lá fomos nós, Avenida da Liberdade abaixo, mais concentradas em pôr a conversa em dia do que em ver de facto as montras ou em entrar nas lojas. Escolhemos três ou quatro e lá fomos cuscar, numas simplesmente não valia a pena entrar, noutras entrámos por nossa conta e risco, tal era o monte de mulherada que as enchia. Nesta noite já se sabe que compras estão fora de questão: ninguém tem calma e concentração suficiente para ver o que quer mesmo comprar, e mesmo que tenha, as filas habituais nas lojas que são mais em conta fazem qualquer uma desistir da espera. Simplesmente não há cu que aguente a confusão. Para mim não dá mesmo - é por isso que não sou menina de me perder nos saldos, apesar da tentação dos descontos, porque o ambiente normal desses dias (tudo doido à luta pelo último par de stilettos 38 em preto, prateleiras com montes de roupa até ao teto, filas de 5 quilómetros para pagar, etc.) nunca me estimula à compra.
Mas a VFNO é sempre gira para dar uma volta pela Avenida e pelo Chiado, ver as ruas cheias de animação, ir fintando os encontrões e finalmente atingir o destino: o restaurante onde jantamos, descansamos as pernas e prolongamos a noite, todas juntas. E ontem S. Pedro ajudou, porque a temperatura estava fantástica, nem muito quente, nem muito fresca. Para meu espanto, consegui ir sem me sentir cansada desde o Marquês de Pombal até à Oficina do Duque, no Chiado, o local escolhido para o repasto. A ementa é super original e alguns ingredientes obrigaram a uma pesquisa no Google para serem decifrados. O espaço é muito agradável, apesar de não muito grande e, com as portas abertas, o fresco da noite ia invadindo a sala sem deixar que o ambiente se tornasse pesado. A maioria de nós escolheu o bitoque, que estava muito saboroso e bem passado como pedi, apesar da carne ser de uma grossura considerável. O único senão foi mesmo o ovo cozido a baixa temperatura, que já vinha frio (e não só o meu). Enfim, ficou aprovado!
Quando saímos e rumámos em direção a casa, o que mais me chocou foi a quantidade de lixo acumulado nas ruas. De fugir. Copos, sacos, papéis, garrafas, eu sei lá. A dimensão dos pontos de recolha simplesmente não está preparada para uma noite destas. Isso a juntar aos péssimos hábitos de algumas pessoas mais porquinhas, que já se sabe o que a casa gasta. Espero que tenham conseguido pôr a cidade em ordem antes do amanhecer, caso contrário quem acordasse e desse de caras com aquele cenário iria pensar que um furacão atacou Lisboa durante a noite.
A primeira vez que a gastronomia tailandesa me chegou às papilas gustativas foi a propósito de um artigo que tive de fazer sobre os melhores restaurantes da especialidade em Portugal, há mais ou menos cinco anos. Até esse dia nunca tinha experimentado nem fazia ideia do que era, e essa foi a melhor forma de ficar a saber absolutamente tudo. Para complementar o artigo desloquei-me à Embaixada da Tailândia em Portugal para entrevistas e fiquei fascinada com a conversa que tive com o Primeiro Secretário, na época Anan Pikultipsakorn, e com o que aprendi sobre a cultura do país. Depois estive também no restaurante Banthai (que significa casa tailandesa), e conversei com a dona, uma tailandesa que residia em Portugal há vários anos, que me contou mais sobre os elementos caraterísticos da sua gastronomia, o que a distingue das "vizinhas" chinesa e indiana e de que forma se destaca entre as restantes. A Tailândia combina no seu território praia, planície e montanha, o que proporciona diferentes tipos de clima e logicamente ingredientes muito diversos que tornam a gastronomia surpreendente, sem deixar de ser extraordinariamente coesa. O jantar que se seguiu foi o primeiro contacto real com os aromas e os sabores, que nunca mais esqueci. Foi a partir daí que se tornou na minha cozinha preferida, e talvez tenha sido a verdadeira razão de termos mais tarde escolhido a Tailândia como o nosso destino paradisíaco de lua de mel. Foram três semanas em que visitámos os principais locais de interesse, da capital às selvas e às tribos do norte, às praias maravilhosas do sul. Nunca mais vou esquecer os dias que passámos nem as pessoas que conhecemos. Os tailandeses são anfitriões de excelência e a simpatia e humildade é um traço muito comum, sobretudo nas zonas fora da grande Bangkok -não é à toa que lhe chamam o "País dos Sorrisos".
Tudo isto a propósito de termos ido jantar ontem ao Banthai e termos descoberto que foi comprado pelo restaurante vizinho Rock ‘n Sushi – agora chama-se Rock ‘n Thai. Ficámos com algum medo de que a mudança de gerência tivesse alterado a qualidade, mas depois de terminada a refeição parece-me que felizmente isso não aconteceu (comi um dos meus pratos favoritos, Pad Thai). A ementa mantém-se e aparentemente a maioria do staff também, o que é muito importante para manter o bom funcionamento da casa e a fidelidade dos clientes. É um dos dois restaurantes tailandeses de Lisboa que gosto de frequentar, e espero que continuem a existir por muitos e bons anos.